O
Reiketsu volta ao Rio de Janeiro após quase quatro anos para três apresentações em torno no novo disco
Ninho de Harpia, o segundo álbum da banda. Na sexta-feira (6), a banda vai a São Gonçalo e se apresenta no Metallica Pub, no sábado (7) toca na Sinuca do Antônio, Ilha do Governador e no domingo (8) no Subúrbio Alternativo, em Brás de Pina. O quarteto paulista é formado por Saulo na bateria, Kiko na guitarra, Bruno na guitarra e voz e Tiago no baixo e backing vocal.
- Estamos bastante animados (em voltar ao Rio). Tocamos na capital do RJ em dezembro de 2012 e foi muito marcante. Na época saímos de SP com nossxs amigxs da Nuclear Frost e Distübia Cladis. Desta vez iremos com mais tempo para conhecer a cena local, trocar experiências e tomar uns goles com os amigos - comenta Tiago.
|
Kiko,Saulo, Tiago e Bruno (Foto: Junior da Silva/Divulgação) |
O baixista e backing vocal contou à
RUÍDOZZ um pouco mais
sobre o trabalho realizado em torno do mais recente álbum, os desafios da banda, as impressões da sociedade e uma pluralidade de influências.
Como anda a divulgação e a aceitação do novo registro Ninho de Harpia?
- Confesso que a recepção superou um pouco minhas expectativas.Lançamos o álbum há dois meses e o pessoal tem procurado e elogiado bastante. Infelizmente não fizemos tantos shows pra promover os últimos lançamentos, e estamos agora bem focados em viajar e divulgar bastante o Ninho de Harpia.
- Desenvolvemos o conceito do clipe com o Junior da Silva (responsável pelas fotos do CD e também pelo clipe de
Condenado, do Cinza) e tivemos a ajuda do Vinicius Garcia atuando. Fizemos a filmagem da banda tocando no antigo estúdio do Kiko e as cenas do Vinicius numa madrugada, pelas ruas do centro de São Paulo. As filmagens foram feitas pelo Kiko, que também cuidou da edição, e pelo Junior. Foi um pouco cansativo e trabalhoso, mas o resultado nos agradou bastante.
Como foi o processo de gravação do disco Ninho de Harpia e as diferenças deste novo registro em relação ao Cinza?
- Na minha visão, a principal diferença entre a gravação e a composição do
Ninho de Harpia para o
Cinza foi que desta vez o processo foi feito com mais
calma e contou com uma participação maior de todos da banda. Na época do
Cinza, o Kiko e o Bruno praticamente desenvolviam tudo comigo, mas com o Saulo opinando aqui e ali e gravando nossas partes. Desta vez, o Kiko e o Saulo trabalharam muito juntos as partes de bateria antes de gravarmos. Eu também pude colaborar mais com letras e algumas ideias.Tudo isso colaborou para que pudéssemos experimentar mais, colocando influências diversas como black metal, efeitos eletrônicos e outras coisas que sempre curtimos mas que anteriormente ainda não tínhamos conseguido explorar. A gravação não diferiu muito da gravação do
Cinza. Cada um gravou suas partes em suas respectivas férias. Eu mesmo fui o último a gravar
(que banda em sã consciência grava o baixo por ultimo? Hahahahaha). A maior diferença mesmo em questão de gravação, partiu pelo Kiko, que além de nosso guitarrista é o produtor do CD e evoluiu muito desde a última vez em que gravamos o
Cinza com ele. Tenho muito orgulho do nosso primeiro full, mas a diferença de gravação e composição entre os dois é brutal,.e me orgulho muito disso.
|
A arte do álbum foi feita por Augusto Miranda (Foto: Divulgação) |
Distância não é o problema
Nem mesmo os mais de 350 km que separam Kiko e Saulo de Tiago e Bruno é um empecilho para não manter a banda ativa. Espalhados pelo Estado de São Paulo entre as cidades interioranas de Ourinhos e Assis, e a capital paulista, a responsabilidade em manter o Reiketsu vivo torna-se mais forte com o desafio.
- Eu moro em Ourinhos, o Bruno em Assis, o Kiko e o Saulo moram em São Paulo, capital. A gente se encontra bem pouco para falar a verdade. Costumamos nos encontrar para ensaiar alguns dias antes de um processo de gravação ou tour, como agora. Fora isso, o que rola são ensaios entre partes da banda. Por exemplo, o Kiko e o Saulo passam as músicas em dupla na capital ou então o Saulo vem para Ourinhos, onde a família dele mora, e o Bruno vem de Assis para Ourinhos para nós três ensaiarmos. Nada muito convencional - revela Tiago, que atribui esta distância e o trabalho ao intervalo de três anos entre um disco e outro, além de outro obstáculo.
- Outra coisa que acaba deixando o processo mais lento é o fato de sermos uma banda totalmente independente. Nós mesmos gravamos, produzimos e com ajuda de alguns selos amigos lançamos nossos álbuns. Por conta disso temos que driblar limitações como falta de tempo e principalmente falta de dinheiro. O Ninho de Harpia só foi lançado agora, mas foi gravado faz alguns meses. Eu mesmo já estou enjoado das músicas - brinca.
Apesar de tudo, o prazer em fazer o que gosta fala mais alto...
- Bruno e o Kiko tocam juntos em outras bandas desde a época em que o Kerry King ainda tinha cabelo! O Saulo e eu já nos conhecíamos há tempos também. Isso ajuda. E outra, nós quatro já tivemos experiências em tocar com outras pessoas que mesmo morando perto não "abraçavam a causa". Então quando montamos o Reiketsu estávamos todos com a "faca nos dentes" por assim dizer. Temos prazer em tocar juntos, muito amor pela banda e pelo som que fazemos. Perante isso, obstáculos como distância e falta de grana quase nada significam - continua.
Reflexão social
Ao parar para ouvir o Reiketsu percebe-se uma atmosfera melancólica que une sludge, black metal, crustcore, dentre outros gêneros. Apresentam um som cantado em português com letras fortes que debatem o sentido da vida e da humanidade. Abusam das oitavadas e agressividade nas pegadas neocrust e nos vocais graves por Bruno que são divididos com os rasgados de Tiago. De acordo com o baixista, o direcionamento do tema lírico da banda foi natural e com integração entre os integrantes.
- Apesar de não termos conversado sobre direção de letras e essas coisas, elas acabaram indo para um mesmo caminho: os questionamentos do ser humano perante seu papel no mundo e na sociedade. Acho que elas não estão tão diretas como as anteriores, estão mais reflexivas. Mesmo aquelas mais "politizadas", por assim dizer - explica.
Tiago mantém-se antenado em torno dos acontecimentos políticos do país. O músico admite certo receio no caminho que a sociedade está trilhando e critica a esquerda brasileira, por se omitir perante ascensão de grupos conservadores.
- Estamos passando por um momento complicado e nebuloso. Se por um lado as manifestações de 2013 mostraram ao povo que ele tem voz, também mostrou à direita e a grupos conservadores toda uma parcela de pessoas revoltadas que poderiam ser facilmente manipuladas e usadas como massa de manobra. O resultado estamos vendo agora. Uma multidão de zumbis com camisas da seleção, fazendo panelaços em bairros nobres, tirando foto com policiais e pedindo a volta da ditadura. Mas a "esquerda"
(aspas mais que justificáveis) também tem sua parcela de culpa Na ânsia de não largar o osso, vimos o PT fazendo alianças com partidos de inclinação duvidosa como o PMDB e apostando numa politica neoliberal bem distante dos ideais que formaram o partido. Deixando seu governo fraco e a mercê de uma corja preocupada em defender seus próprios interesses e que caminha de mãos dadas com a bancada da bala e a bancada evangélica. Se não conseguirmos esboçar uma reação a todas essas coisas, corremos um risco muito grande de virarmos uma ditadura e retrocedermos nas poucas conquistas que a população pobre e as minorias conquistaram. Tenho medo do futuro - reconhece.
|
O baixista e backing vocal Tiago (Foto: Arquivo Pessoal) |
Veia eclética
O nome da banda é uma palavra japonesa que significa "sangue frio". Reiketsu foi fundando em 2009 e lançou a primeira demo no mesmo ano. Além de Ninho de Harpia, a discografia também conta com o slipt com os mexicanos do Después de Muerto (2010), o 7" EP No Fundo do Poço (2012) split com a banda Distanásia, o debut Cinza (2013), o 7" EP Suplício (2014) e a coletânea Regressos (2014). Para Tiago, ainda é cedo para falar sobre novos projetos, mas deixou no ar que os próximos lançamentos podem ter mais elementos usados em Ninho de Harpia.
- O CD novo acabou de sair e ainda não começamos a trabalhar em músicas novas. Creio que as poucas influências de black metal e os efeitos eletrônicos que já estão presentes no Ninho de Harpia possam ser ainda mais presentes num próximo lançamento. Mas vai saber? No fundo a gente ainda ama bandas como Extreme Noise Terror, Neurosis e Isis. Não dá para fugir muito disto (hahaha). Sobre o que estamos ouvindo ultimamente, o pessoal é bem eclético. Falando por mim, ultimamente ouço muito Joni Mitchell, Tiê, Morne, Wolves in The Tthrone Room, Life is a Lie, Bruce Springsteen, Shyy, O Cúmplice, Poliça, Lana Del Rey,Justin Timberlake, Burning Love e Deftones. Basicamente isso tem feito minha cabeça nos últimos dias. O que, para alegria da nação, pode nem interferir num próximo lançamento da banda (risos).
E finaliza com uma mensagem aos cariocas:
- Punks, headbangers e demais desajustados do Rio de Janeiro, estamos chegando!
SERVIÇO
Sexta-feira, 6, 19h
Restos do Fim 3
Reiketsu, Baphomaster, Podreiras, Regorge
Metallica Pub - Rua José do Patrocínio, 42, Porto Novo, São Gonçalo-RJ
Entrada Franca
Sábado, 7, 21h
Les Cadavres - A Batida da Morte
Reiketsu, Kröstah, Sakhet, Morri
Sinuca do Antônio - Av. Paranapuã, 1563, Ilha do Governador - RJ
Entrada Franca com oportunidade de contribuição voluntária
Domingo,8, 17h
União Headbanger
Ruínas (ARG), Reiketsu,Vulture Wings, Pós Sismo
Subúrbio Alternativo - Rua Iguaperiba, 155, Brás de Pina - RJ
Entrada Franca com oportunidade de contribuição voluntária
REIKETSU