Whipstriker se prepara para novo tour pela Europa e quebra mitos sobre cena estrangeira: 'Brasil é muito superior'

Nome forte quando se fala de undergound, Victor Whipstriker fez comparativo entre cenas, desafios de viagens e surgimento da União Headbanger

Aos 31 anos Victor Vasconcellos se prepara para levar o Whipstriker a seu terceiro tour pela Europa, de 3 a 27 de novembro. Aproveitando para divulgar o álbum Only Filth Will Prevail, lançado em julho deste ano pela Morbid Tales e Sound Hell Distro no Brasil, e PRC Music no restante do mundo, serão dez países a percorrer. Com ele também irá a banda Apokalyptic Raids, que vai para a sua segunda viagem pelo Velho Continente. 

Victor Whipstriker ( Divulgação)
Com idéias convictas e direto ao assunto, Victor  reforça o coro de pessoas que lutam pela manutenção do undergound no Rio de Janeiro. Se apresenta em diversas bandas além da Whispstriker, dentre estas Farscape e Atomic Roar. Criou um projeto de Black Metal com influências de Von, chamado Kuld, e também já fez participações ao vivo com Toxic Holocaust e os paulistas do Power From Hell. Victor Whipstriker é autor do livro "A Geografia do Subterrâneo" - Um estudo sobre a espacialidade das cenas de Heavy Metal do Brasil e um dos fundadores do coletivo União Headbanger, que mudou a cara da organização de eventos no Brasil, há dois anos.

Whisptriker conversou com RUÍDOZZ sobre o que espera por lá. Experiente, acredita que deve passar pelas mesmas dificuldades que encarou noutras vezes, e não poupa palavras quando questionado sobre as expectativas em voltar.

- Qualquer membro de banda, quando perguntado sobre as expectativas de um tour, responderá que estão esperando grandes shows, boa receptividade, etcetera. O mais interessante seria dizer a verdade, ou seja, como as coisas funcionam de fato - antecipa.

Cartaz do tour na Europa (Divulgação)
- Já fizemos dois tours pela Europa e minha expectativa para essa é que aconteça como da última vez. Em dias de semana, os shows são para uma média pequena de pessoas. É comum em uma quarta-feira tocarmos para 50 a 80 pessoas. Aos finais de semana a média cresce para 120. Não há grandes shows e grandes multidões. Se uma banda underground disser o contrário, ela estará mentindo com intuito de valorizar sua banda, com intuito de parecer maior do que é. Falo isso porque vejo muitas entrevistas onde percebo claramente que o entrevistado está mentindo tentando mostrar como sua banda é grande - revela.

Analisando os dois lados, tanto o do público quanto o do organizador, Victor faz um paralelo comparativo entre a cena do Brasil em relação à Europa e Estados Unidos, este último por onde passou há um ano.

- O diferencial da Europa, assim como nos EUA, é a infraestrutura dos shows e o poder de compra dos headbangers. As casas de show tem sempre uma boa estrutura de som, alimentação, hospedagem. O público pode ter um poder de compra maior do que no Brasil, e acaba consumindo mais materiais também - explica Victor, deixando claro:

- É ralação! São horas e horas dentro da Van, shows todos os dias, diarreia, ressaca. As pessoas que reclamam da cena do Rio de Janeiro, por exemplo, fazem isso com a falsa idéia de que nos outros países do mundo as coisas funcionam diferente. Repito: o que é diferente é a infraestrutura e o poder de compra. O Brasil, em termos de shows selvagens, é muito superior - admite.

INDEPENDÊNCIA E RECONHECIMENTO

Sair do país para tocar pode não ser tão difícil quanto parece. Ao menos para Whipstriker essa barreira já foi quebrada desde 2011. Anualmente o baixista e compositor tem aproveitado para ultrapassar o maior número de fronteiras possíveis.

- Se alguém pensa na Europa como algo impossível, está errado. Até porque existem muitas empresas que podem marcar os shows para a banda. Fatalmente a banda vai sangrar em uma grana violenta, mas se pagar vai tocar. Eu nunca paguei a nenhuma agência. Eu mesmo marco todos os shows e nós alugamos a Van e o equipamento da Agipunk Records, da Itália. Nos EUA nós fomos convidados, então também não marquei nenhum show. Quem quiser ir, basta juntar dinheiro para pagar uma agência ou ter disposição e paciência para marcar sozinho. Eu gosto de fazer esse trabalho de booking, então faço por conta própria e ainda economizo dinheiro - conta.

Victor Whipstriker em tour nos Estados Unidos, em 2015 (Arquivo  Pessoal)
A flexibilidade de ser one-man-band também auxilia Victor a sair mundo afora com seu Metalpunk. Geralmente Whisptriker se funde com as cenas locais e o músico agrega interessados em tocar com ele para seguir o tour pelo país que visita.

- É muito difícil conciliar o tempo e a disponibilidade de vários membros. No tour em 2014 tocamos com um baterista francês, o Kev Desecrator. Nos EUA, além do Kev na bateria, tocamos com um guitarra americano, o Tony, e o Rodrigo, que é membro da banda. Em novembro voltaremos à Europa com a mesma formação dos EUA, porém com o Hugo, do Cemitério, na bateria. O Hugo é amigo de longa data e já excursionou comigo quando tocamos no Toxic Holocaust em 2006 e com o Farscape em 2008. Além disso, foi ele quem gravou a bateria do novo álbum.

ESTUDO APROFUNDADO E COLETIVISMO COMO BASE

A dedicação à música pesada não se resume apenas em bandas e produção de eventos. Victor Vasconcellos, mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e servidor público na Biblioteca Nacional, também entrou de cabeça para compreender a importância dos espaços de sociabilidade para a manutenção e surgimento da cena Heavy Metal. No livro "A Geografia do subterrâneo", lançado pela editora Novas Publicações Acadêmicas, de Portugal, ele também se aprofunda em como os grupos urbanos estão organizados pelo Brasil. Em uma extensa pesquisa de campo entre 2010 e 2012, Victor percorreu nove cidades brasileiras: : Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Salvador (BA), Aracaju (SE), Maceió (AL), Recife (PE), Campina Grande (PB), João Pessoa (PB) e Natal (RN).

Em seu livro, Victor Vasconcellos aponta como as cenas de Heavy Metal no Brasil se distribuem. (Divulgação/FBN)
Apesar de sua pesquisa, Victor explica que diretamente não houve qualquer relação deste estudo com a criação da União Headbanger, que na verdade surgiu através de encontros sociais em um famoso bar voltado ao rock e derivados, na Zona Norte do Rio.

- Esse foi o trabalho que fiz para a minha dissertação de mestrado. Isso não influenciou em nada na formação da União Headbanger. O coletivo surgiu no final de 2013, após um show no (bar) Subúrbio Alternativo. Eu e Rodrigo (Lástima) estávamos conversando sobre a importância dos encontros semanais que ocorriam na Rua Ceará muitos anos antes. A cena era movimentada através das noites de sábado na Rua Ceará e no Garage. Não precisava marcar encontros, bastava ir na Rua Ceará para encontrar com todos. A idéia era criar um grupo para manter essa sociabilidade e, consequentemente, a cena ativa. No entanto, a União Headbanger acabou se tornando mais um coletivo voltado para organização de shows. Fizemos cerca de 70 eventos desde que começamos.

Para conhecer mais o trabalho de Whipstriker, ele disponibiliza sua discografia no Bandcamp Oficial da banda, incluindo o atual álbum na íntegra. Conheça as demais bandas e projetos com Victor Vasconcellos:

Farscape
Bandcamp Oficial: farscape666.bandcamp.com
Facebook Oficial: facebook.com/farscape666

Diabolic Force
Facebook Oficial: facebook.com/Diabolic-Force-904653226214486

Atomic Roar
Reverbnation Oficial: reverbnation.com/atomicroar
Facebook Oficial: facebook.com/atomicroar

Kuld
Bandcamp Oficial: kuld.bandcamp.com
Facebook Oficial: facebook.com/kuld666

Para adquirir o livro “Geografia do subterrâneo” – um estudo sobre a espacialidade das cenas Heavy Metal do Brasil, em formato PDF, o autor disponibiliza gratuitamente no link a seguir: http://bit.ly/2dWVqyO


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