Banda de crossover Short Thrash procura baterista


Vocalista Markin Cardoso fez apelo em vídeo publicado na página da banda no Facebook

Short Thrash (Foto: Divulgação)


Em outubro o Short Thrash completa um ano sem se apresentar ao vivo por ausência de baterista. Por conta disso, o vocalista Markin publicou na página oficial da banda um vídeo a procura de alguém para ocupar a vaga que ficou disponível desde a saída de Carlos Souza. Oriunda de São Gonçalo, no Grande Rio, a banda também conta com integrantes de outras cidades, focando os ensaios na região central do Rio de Janeiro.

Na publicação, o vocalista fala sobre os obstáculos para encontrar um baterista:

- É difícil arrumar batera porque o Short Thrash não é só uma banda, mas sim um ideal, já que temos músicas como "Foda-se Sua Família Tradicional Brasileira", "Tá comigo, Tá sem Deus", e tem letras fortes e não conservadoras - comenta Markin.

O Short Thrash lançou o debut Crossover Inferno em maio deste ano. É possível ouvir na íntegra pela página do Bandcamp da banda.

Produção anuncia venda de ingressos promocionais para o Extreme Noise Terror no RJ

Com valor de meia-entrada, bilhetes estão sendo comercializadas online e sem taxa de conveniência

Banda vem para a segunda apresentação na cidade do Rio de Janeiro, após passagem em 2012 (Foto:Divulgação)

A organização do show do Extreme Noise Terror no Rio de Janeiro, confirmou o início das vendas dos ingressos para o evento com preço promocional de R$50, sendo limitado o lote e mediante entrega de 1kg de alimento não perecível no dia do espetáculo. Para alegria dos fãs da banda, o bilhete está sendo comercializado online sem aquela desagradável taxa de conveniência, podendo ser pago com cartão crédito, transferência online ou boleto bancário. De acordo com a produção, não haverá vendas em pontos físicos. Os britânicos do Extreme Noise Terror se apresentam do Teatro Odisséia, na Lapa. no dia 2 de novembro junto com o TestManger Cadavre? e Uzômi a partir das 20h .

Com mais de 30 anos de estrada, o Extreme Noise Terror retorna ao Rio de Janeiro para o tour do álbum auto-intitulado lançado em 2015. Além do Rio de Janeiro, eles ainda apresentam seu grindcore no Fabrique, São Paulo, dia 1, Galpão da Terra, Manaus, dia 3, Parque dos Igarapés, Belém, dia 4, e encerra no Honras Ao Deus Baco, Recife, dia 5. A banda vem com Dean Jones e Ben revezando os vocais, Andy Morris no baixo, Ollie Jones na guitarra e Mic James na bateria.

SERVIÇO
EXTREME NOISE TERROR (UK) + TEST (SP) + MANGER CADAVRE (SP) + UZÔMI (RJ)
02 de novembro - Quinta-feira, às 20h
Teatro Odisséia - Lapa, Mem de Sá, 66, Rio de Janeiro

INGRESSOS - CLIQUE AQUI PARA COMPRAR
R$ 50 (a partir do dia 25 de setembro até o dia 16 de outubro / promocional ou meia-entrada*)
R$ 100 (inteira)

R$ 65 (a partir do dia 17 de Outubro – até o dia 01 de Novembro / promocional ou meia-entrada*)
R$ 130 (inteira)

R$ 80 (à venda no dia 02 de Novembro / promocional ou meia entrada*)
R$ 160 (inteira)

* Lotes limitados de ingressos.
* Após a venda do total de ingressos de um lote, o lote seguinte é colocado à venda.
* Valor promocional válido com 1kg de alimento entregue na bilheteria no dia do show.
* Meia-entrada válida para estudantes, portadores de necessidades especiais e acompanhante (permitido apenas um acompanhante pagando meia-entrada por pessoa com deficiência), jovens entre 18 e 29 (inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal – CadÚnico, cuja renda mensal seja de até 02 (dois) salários mínimos), professores e profissionais da rede pública municipal de ensino, jovens entre 18 e 21 anos e maiores de 60 anos.
É indispensável, conforme Lei nº 12.933 de 26 de dezembro de 2013 e Decreto 8.537, de 5 de dezembro de 2015, a apresentação do documento de identificação que comprove o benefício da meia-entrada na entrada do espetáculo, sob pena de cancelamento da aquisição, ressalvada a hipótese das pessoas com deficiência, cuja comprovação será exigida somente no momento do acesso ao evento, em atenção ao disposto na Lei Estadual nº 6.804/2014.  A não apresentação do documento comprobatório do benefício, implica no cancelamento da aquisição. Neste caso, a pessoa poderá complementar o pagamento do ingresso ou ter restituída a importância paga na sua aquisição, no prazo e na forma oportunamente definidos pela organização.
* Número total de ingressos: 500
* Número de ingressos de meia-entrada: 200 (40% do total)

AVISOS
. Ingressos limitados.
. Após a venda do total de ingressos de um lote, o lote seguinte é colocado à venda.
. Evento sujeito a lotação. Garanta seu ingresso antecipado.
. Na compra de ingresso promocional, a doação deve ser entregue na bilheteria no dia do show.
. Vendas somente on-line ou na bilheteria somente no dia do evento.
. Para a maior comodidade dos clientes não será cobrada taxa de conveniência.
. Todas as informações estão sujeitas a alteração sem aviso prévio.
. Entrada permitida somente a maiores de 18 anos.
. É necessária a apresentação de documento de identidade original na entrada.

Produção:
Raoni Martins

Apoio promocional:
TomaRock Produções - facebook.com/FestivalTomarock/
Collapse Agency - facebook.com/collapseagency/
MGB Entertainment - facebook.com/MGB.Brazil/




Às margens da música extrema, banda usa o Black Metal para levantar voz contra o agronegócio em terras indígenas

Sem rostos e sem localização, Corubo difunde cultura de tribos latinas, abrindo espaço para protestar e levantar discussão contra massacres em aldeias por disputas políticas


Não se sabe sua localização exata, seus nomes reais e suas origens. Sabe-se apenas que Corubo é uma manifestação sonora que une o som Black Metal com elementos indígenas e letras, em português ou guarani, carregadas de protestos perante o genocídio promovido pelas ambições do agronegócio no Brasil. Cauã é Tesa’ãme são os pseudônimos dos caras que estão por trás deste som. Seus rostos não aparecem nos encartes, nem há fotos de apresentações ao vivo. Eles não divulgam a função de cada membro e a inspiração pelo nome da banda vem da tribo quase desconhecida Korubo, que vive em regiões do Acre e Amazônia e são compostas por índios canibais que atacam quem invade seu território.

- O nome veio por apoio aos "selvagens indomáveis", comedores de invasores e de inimigos. Livres, nômades e resistentes. Sua língua não possui escrita. Como Korubo também é nome de cidade e de outras coisas, então preferimos subverter e destacar como Corubo (com a letra C ao invés do K). Depois conhecemos o cacique Korubo e sua trajetória, o que consolidou nosso caminho - explica Cauã.

Sobre aonde nasceu a banda Corubo, eles também não divulgam. Enquanto o site Metal Archives aponta que Corubo tem origem em Ji-Paraná, município de Rondônia, o Bandcamp oficial aponta Minas de Corralles, no Uruguai. Para confundir mais, há um endereço na segunda demo-tape lançada em 2001 que remonta a Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Detalhe que eles mesmos afirmam que nenhuma das localizações publicadas são verdadeiras e fogem do assunto quando questionados.

- Tento entender por que tanta preocupação em ver os integrantes. Isto sempre acontece. Nosso foco se concentra na ideia que o que fica é o caminho que o homem abre, não ele em si - despista Cauã, com pontos de subjetividade.

- Não há interesse de se auto promover, ganhar estigma ou seguidores por causa disto, ou que seja, fazer poses tão clichês como há na cena. Na maioria dos casos seria melhor se não houvesse mesmo (risos). Há gente que nos conhece por aí mundo afora e acredito que entendem isto e, no geral, sempre mantiveram assim também em respeito ou apoio - complementa Cauã.

Desde 1999 Corubo lançou 13 materiais entre formatos tape e digital e, pegando carona no amplo compartilhamento de sua ação direta, disponibilizam a discografia de forma totalmente gratuita. Cauã foi o responsável pelo nascimento do projeto, que já chegou a ser banda em 2001, com apresentações ao vivo, porém sem registros em áudio ou imagens. Neste mesmo ano, um dos integrantes, também não divulgado, morre e a banda finda as atividades. Em 2005 Cauã retorna com Tesa’ãme e, desde então, não voltaram a se apresentar ao vivo. Apesar do som ter origens no Metal, Cauã descreve na biografia de Corubo aproximação ao movimento Punk, desenvolvendo forte oposição à divisão honour and pride do Black Metal.

O material mais recente de Corubo, lançando no último mês de junho, é o EP Existência Indígena é Guerra, que traz cinco manifestos que reforçam suas contestações ao massacre de indígenas por razões políticas. A capa é forte e estampa a foto do cadáver de Adenilson da Silva Nascimento, conhecido como Pinduca. Ele era uma liderança Tupinambá e foi executado a tiros em Ilhéus, na Bahia, em 2015. A quarta faixa do material, Awêre para Kisile, o homenageia.
Também disponível em K7, material recente traz capa com imagem forte e manifesto sobre lutas indígenas (Divulgação)
Mesmo com tantos mistérios em torno de Corubo, RUÍDOZZ conseguiu entrar em contato com Cauã para entender a proposta apresentada, com este chegando a ironizar quando perguntamos sobre o Levante do Metal Nativo, que é a nova cena que mescla o Metal com música indígena. Confira abaixo:

RUÍDOZZ: Quem faz a Corubo? Quais são as influências?
CAUÃ: Atualmente e de longa data, Cauã e Tesa’ãme. O foco se centra em exalar o primitivismo, não se esquecer que com pouco se pode fazer muito mais, nunca se limitar e sempre tentar expandir os próprios limites. Por isso sempre seremos uma banda em trânsito, com algo que não se perde mas está sempre se mexendo.

RUÍDOZZ: Os usos de artifícios digitais, como a bateria, são evidentes no som. Por que a escolha de uma bateria eletrônica?
CAUÃ: Nem todos os nossos trabalhos têm simuladores eletrônicos. Usamos o que temos em nossos meios alternativos. Às vezes por tempo, técnicas diversas como sistemas de captação e edição, condições de ter e manter equipamentos, a falta de elementos vivos interessados e centrados num trabalho sério e sem autopromoções como o nosso, talvez seja o maior fator limitante da banda. Nós, Cauã e Tesa’ãme, por muitos e muitos momentos tivemos distâncias terrenas enormes entre nós e apenas por causa do foco e entendimento de nossas essências, o projeto seguiu sem se perder ou abalar. Isto precisa de muita concentração e esforço. Se vocês leitores conhecerem quem se enquadre neste estilo, nos indiquem, até hoje não apareceu mais elementos sérios e comprometidos.

RUÍDOZZ: A mescla da língua portuguesa e o guarani também são marcas expressivas em Corubo. Conte-nos como surgiu essa ideia. Reivindicam o posto de pioneiros em cantar no idioma indígena?
CAUÃ: Essa sempre foi a ideia. A Corubo se formou talvez apenas por essa ideia de tratar do diferente ao estilo do próprio e pessoal. Sem isso ela nunca haveria de existir e creio que nem em outros projetos como os de maioria clichês e tradicionais, estaríamos nós da Corubo. Precisamos de afinidade e sinceridade, penso.
Quanto ao posto (de pioneiros), nunca tivemos a preocupação de tal. Fazer algo original, sim! Na época onde foi estudado e idealizado o projeto, não havia nem algo parecido para influenciar diretamente. Penso que Corubo veio do mundo, Corubo está no mundo, dele, nele e devolve para ele.

RUÍDOZZ: Como veem a cena do Levanta do Metal Nativo?
CAUÃ: A Definição de Metal Nativo diz: “Metal nativo ou metal livre é um elemento químico metálico quando encontrado no estado não-oxidado. O ouro, prata e cobre são encontrados relativamente puros na natureza. Metais nativos são utilizados desde a Era do Cobre e a partir da Era do Bronze na confecção de ligas. Também foram utilizados no Egito, Mesoamérica e outros locais na confecção de joias” Acho que é isso mesmo, apenas tem de procurar os com qual você vai se identificar! Deve ser apreciada e valorizada mas jamais extrair a força. Tal exagero leva ao vulgar e empurra a possíveis extinções.

RUÍDOZZ: Me falem sobre a luta de vocês pela causa indígena. São de família indígena?
CAUÃ: Sim! Não também, temos mistura (Como no dele, nele e de volta para ele). Nossa luta vem da absorção de diferentes sistemas de sinais de comunicação entre indivíduos ou coletividades desta existência (semiótica). Volta naquilo, daqui viemos, aqui estamos, assim devolvemos. Não dá para separar as coisas em suas bases. Elas se interligam e tudo acontece nesse meio. Toda luta é diária se real. O som exala isto e timbra como um convite a outros guerreiros e simpatizantes assim como um ruído sujo e profano à cultura tradicional maioritária. O trabalho Existência Indígena é Guerra sai como reflexo, um chamado de atenção aos que estão dispostos a juntar e doar forças.

A luta está pra lá de negra meu amigo, é mais fácil fechar os olhos e se esconder no meio da ignorância, mas não o certo. Os conceitos de radical são muitos, pode ser por algo muito diferente. Mas ele também se define em quando mesmo sabendo que está errado, o sujeito insiste. Esta luta se trata em primeiro plano por empatia. Do contrário se percebe traços de psicopatia e isto é massivo na sociedade humana. A partir disto, penso que está cheio de radicais em nossa sociedade. Pessoas que não querem mudar, mesmo sabendo que estão erradas, ainda por cima chamam de radicais pejorativamente os que não querem viver com este mesmo estilo de vida destrutivo e mentiroso. O princípio da explicação - conversa franca deve persistir e ser a base -; estar pronto para lutar com todas as armas, faz de um elemento um ser mais completo, que se esforça para arrancar de si o que pode de melhor. Isto com certeza define nossos princípios e por muitas vezes as evocações de nossos sons.

RUÍDOZZ: Percebe-se ideias anarquistas em determinados momentos. Explique-nos se há influencia anarquista e, caso haja, como isso ajuda a moldar o pensamento e ação de vocês?
CAUÃ: Não acho interessante o rótulo. Existem muitas vertentes sobre a ideologia anarquista e mais formas ainda de interpretá-las. Porém, o quesito liberdade, expansão de consciência, pensar e agir, logo, a vida é aqui e agora, exigir o melhor de si... são conceitos comuns às ideias anarquistas e também integrados diretamente a maioria das culturas indígenas, por exemplo: Quando andei pela Bahia ouvi muitos moradores regionais usarem os Pataxós como referência ao fazer e acontecer. As prefeituras e o estado os temem, e torna difícil confrontar estes guerreiros, que enquanto estiverem lá, conseguiram vitórias em suas batalhas. Eles aprenderam muito nestes mais de 5 séculos, uma vez que estavam no front atacado pelo “psicopata Colombo”. Quando os conheci em sua aldeia de reserva, instantaneamente fiz simpatia e amizade. São espetaculares seres! Como não sentir ligação? Como não ter empatia por suas vidas, respeitar e enxergar o direito de seguirem como querem e escolheram, mesmo que diferente de mim ou você!? O único jeito que conheço para isto é o (conceito) libertário, longe de qualquer sistema político e suas qualificações, obrigações, etc.

RUÍDOZZ: Observa muito conservadorismo na música extrema? Caso sim, como driblam isso?
CAUÃ: Sim, vários monólogos. Normal de qualquer estilo, penso. Por exemplo, muitas records e selos, inclusive da própria América Latina que trabalham com Black Metal nas vertentes indígena e folclórica, nos deixaram na mão após primeiros contatos. Fomos descobrindo que tais apoiavam bandas nacionalistas, NSBM e sempre estampamos de cara em nossos trabalhos a total oposição a estes grupos separatistas, segregadores por ideologias pessoais que nem sequer vivem em integralidade nos seus dia-a-dias. Perseguindo, ou mesmo que só pregando, de maneira infeliz os diferentes que estão livres desta condição. Apesar, isso nunca foi um problema sendo quem somos. Continuamos criando, gravando e lançando nossos materiais da maneira mais direta possível.

E como driblamos isso?

Esse é o foco, não driblamos, atacamos.

Corubo está disponível em plataformas digitais para download e apreciação.

Rotten Cadaveric Execration: 'Headbanger que nega a influência do punk no metal é muito burro'

Banda de death/grind de Salvador critica conservadores e segregadores no metal e fala sobre evolução sonora em recente EP 
Derrick, Márcio, Diego e Caio (Foto:Divulgação/RxCxE)
Rotten Cadaveric Execration demonstra inquietação perante a sociedade e também ataca os headbangers que não aceitam o punk no metal e que ainda apoiam políticos de ideologia cristã radical. Essa revolta, mais os trancos e barrancos de se ter uma banda extrema e o desafio da grande distância entre as cidades que separam os integrantes, acabam sendo o combustível necessário para que se desenvolva um intenso apanhado sonoro, que incomoda muitos ouvidos desde 2009.

O som da banda foi ganhando forma no primeiro registro Execrate, lançado de forma independente no ano de sua formação, que esbarra no death metal estilo estadunidense. Cerca de três anos depois, a brutalidade evolui no álbum Misbegotten, lançado pela Guttural Brutality Productions, que reúne 21 faixas que ainda cadenciam o extremo com pegadas metalizadas. O caos chega enfim em Intense Sensations in Self Mutilationo mais recente EP da banda. Lançado em outubro do ano passado, traz consigo uma atmosfera mais anti-música e muito mais brutal, que remete ao grindcore.

- Acho que no processo de composição do Intense Sensations in Self Mutilation que nos demos conta de que a coisa pode ser ultra simples, com início, meio e fim e ainda assim ser extremamente violenta. Acho também que houve um processo de desapego com as nossas músicas. Nem todas precisam ser a nossa melhor música, então vamos curtir nosso processo – conta Caio Rohr, vocalista da banda.

Além de Caio, o Rotten Cadaveric Execration, é composto por Diego Fleischer nas guitarras, Derrick Alcântara no baixo e Márcio Jordanne na bateria.

Para falar sobre os planos da banda, RUÍDOZZ  conversou com Caio Rohr, que contou também sobre a divulgação do material recente, as impressões em relação a lançamentos em formato digital e também fez um desabafo sobre a ruptura da cena metal.

RUÍDOZZ: Fale sobre os primeiros passos do RxCxE, as mudanças de membros e os principais momentos da banda desde sua fundação.

CAIO ROHR: A ideia de ter uma banda surgiu pra mim em 2007. Conheci uns caras de uma banda de death metal daqui de salvador chamada Mental Suffering e montamos uma banda chamada Gutrender. Queríamos um som mais puxado para o brutal death metal americano. Suffocation e Disgorge, basicamente. O problema era que a galera era muito pouco compromissada, eu inclusive. Fizemos um show e acho que foi tão ruim que ficou implícito que a banda tinha que acabar que acabou. Em 2009 eu ainda mantinha contato com o baterista e decidimos refazer o projeto. Foi aí que surgiu a ideia da Rotten Cadaveric Execration. Nossa proposta ainda era levar um som brutal death metal. Na época eu fazia parte da Escarnium e fomos tocar num evento com a Funeratus e a Deformity BR, uma banda antiga de Feira de Santana, uma cidade próxima a Salvador. Conheci Diego nesse dia porque ele usava uma camisa da Vomepotro, banda paulista que somos fãs (um salve pro David e André!). Chamei ele pra fazer parte da banda e depois de alguns ensaios gravamos a nossa primeira demo. Pouco depois eu me mudei do Brasil (para os EUA) e a banda parou de se apresentar, mas continuou ensaiando e compondo. Nessa época, éramos eu, Diego e Renato. Voz, guitarra e bateria respectivamente. Sem baixista.
Imediatamente após a minha volta, retornamos aos ensaios e composições. Fizemos muitos shows, mas desde já começamos, muito lentamente, a mudar nossa sonoridade. Tivemos um baixista chamado Marcus, membro fundador da Geminicarios, mas ele ficou conosco por menos de um ano. Em 2012 gravamos nosso primeiro álbum, Misbegotten. Ele só veio a ser lançado em 2014 pelo selo do David, da Vomepotro. Uma grande honra, imagine? Se não me engano, em 2013 brigamos com o baterista e ele foi retirado da banda. Logo após Renato sair, entram Márcio e Derick, baterista e baixista respectivamente. Eles fazem parte de uma banda foda de death metal daqui da região, chamada Devouring. A formação não mudou desde então. Em 2016 gravamos o Intense Sensations in Self Mutilation. Primeiro registro com a nova formação e uma mudança perceptível no nosso estilo.




RUÍDOZZ: Pude perceber que os materiais anteriores da banda, tinha uma pegada mais death metal. Por outro lado, o recente EP Intense Sensations in Self Mutilation tem uma levada mais direta ao grindcore, instrumentalmente falando. Me fale sobre esse paralelo entre os materiais da banda. Sente uma evolução?

CAIO ROHR: Claro! sempre ouvimos muito grindcore e goregrind, além de death metal. Mas acho que com os anos passando, eu pelos menos, fui me cansando um pouco de bandas de brutal death metal. Sempre olhei para o grind como sendo aquela coisa crua, simples e avassaladora, e o feeling minimalista sempre me causou boas reações. No nosso processo de composição, eu sempre insistia para que as músicas fossem mais simples e mais curtas, muitas vezes para desgosto de Diego (guitarrista) que sempre achava que a música podia render mais. Acho que no processo de composição do Intense Sensations in Self Mutilation que nos demos conta de que a coisa pode ser ultra simples, com início, meio e fim e ainda assim ser extremamente violenta. Acho também que houve um processo de desapego com as nossas músicas. Nem todas precisam ser a nossa melhor música, então vamos curtir nosso processo.

RUÍDOZZ: Como está a repercussão do EP? Por que a escolha em disponibilizar os materiais completos de forma digital e gratuita?

CAIO ROHR: A recepção está muito boa. Em alguns dias foram mais de mil reproduções na nossa página do Bandcamp. Decidimos fazer digital por falta de grana mesmo. O trampo provavelmente vai sair pela Old Grindered Days, do Glésio, da Shitfun, de Petrolina. Aquele traste sempre foi um amigo nosso e viu um show nosso na terra dele em 2011.
Eu sempre encarei a música de forma muito desapegada. Sempre fui a favor desse meio digital e sempre achei que essa briga contra MP3 é uma besteira. As coisas mudam e se renovam. O CD quase matou o vinil e o MP3 matou as lojas físicas, assim como o torrent e o Netflix mataram as videolocadoras e por aí vai. O som do vinil é melhor do que o som do CD, que é melhor do que o som do MP3, e ninguém questiona isso. Mas hoje em dia quem tem grana para comprar tudo que quer ouvir? eu tenho uma coleção legal de CDs, fitas e LPs, mas meu HD tem muito mais coisa. Certamente compraria tudo em vinil gatefold 180g, edição limitada, numerada a mão e o escambau, mas não posso. Garanto que 95% do que tenho aqui em mídia física, eu ouvi digital primeiro para depois comprar, o que chega ao ponto de eu ter disponibilizado a nossa discografia INTEIRA gratuitamente. Quem comprar, vai comprar independente de já ter baixado ou não. O material físico não é só para ouvir, é para se ter, se pegar, olhar os detalhes, ler a ficha técnica, abrir encarte e a porra toda. É claro que eu queria que todo mundo que curte o som da minha banda comprasse o nosso álbum, a nossa demo, o nosso ep, uma camisa e me pagasse uma cerveja, mas eu já passei da primeira infância e não posso mais querer o mundo todo, não é? então me contento (e me contento MUITO) quando alguém vem me dizer que o som está do caralho ou quando me encontram na rua e apertam minha mão dizendo que ouviram a parada e que estamos de parabéns. Acho tão bom quanto e tão honesto quanto. Se não gostou do som da banda, é só fechar a página e tocar a vida e você não gasta seu trocado suado e ocupa um espaço na sua prateleira ao lado dos discos que você realmente julga importante para a sua jornada musical.

RUÍDOZZ: Quais os planos futuros? Um tour fora do país já é cogitado? Novo full lenght?

CAIO ROHR: Já conversamos sobre um tour fora, já até engatilhamos um tour dentro, mas as coisas são muito mais complicadas. Sou autônomo e minha profissão ainda está lenta, Diego teve filha e tirar um grande tempo para rodar por aí tocando acaba ficando MUITO difícil. Claro que desejamos, mas não tá dando.
Temos a ideia de compor um segundo full, sim. A composição do EP nos animou muito e estamos na verdade lutando contra a logística porque atualmente só eu moro em Salvador. Diego mora em Feira de Santana, a uns 100km daqui e Márcio e Derick moram em Simões Filho, que é perto, mas ainda assim tem uma estrada para atravessar e encontrar com os caras.

Banda em passagem pelo Rio de Janeiro, em 2016 (Foto:Divulgação/RxCxE)
RUÍDOZZ: Qual a inspiração das letras da banda?

CAIO ROHR: Rapaz, o Robson, do Desgraça Zine, nos perguntou mais ou menos a mesma coisa e se eu tivesse esse zine digital, eu copiaria aqui a resposta, mas Robson é contra essas porras, então vou respeitar ele e deixar a Desgraça Zine fora desse meio digital.
Eu olho ao meu redor e só vejo desgraça: uma grávida viciada em crack pedindo esmola para fumar, uma execução sumária em frente de câmeras de TV, assassinatos, esquartejamentos, estupros, gente que morre e vira salgadinho de esquina, isso sem falar da nossa situação política atual e da quantidade de conservadores de merda que tem aparecido no meio metal. Bolsominions fuck off! Se você que está lendo essa merda apoia isso, não precisa escutar nosso som ou fazer nada do que eu disse acima.
Eu olho ao meu redor e só consigo escrever sobre esse lixo que eu tenho visto. A pergunta do Robson foi sobre as letras e ele questionava se eu falava sobre coisas concretas ou eram viagens da minha cabeça. Respondi primeiro que eram viagens, mas enquanto estava respondendo, me dei conta de que eram coisas muito concretas das quais eu falava. Somos degenerados e sem muita esperança. O som extremo fala disso.

RUÍDOZZ: Você tem percebido uma evolução na cena local em relação a músicos, produtores e público?

CAIO ROHR: Sim, claro. Muitas bandas surgindo de extrema qualidade, muita gente encarando o tranco que é organizar um som. Muito pouco espaço ainda e os que tem estão para fechar, mas acho que isso é no país inteiro. A galera aqui em Salvador tem circulado mais. Fomos "criados" no meio metal, mas tocamos grind. Acabamos circulando muito entre headbangers e punks e acho que a cena como um todo tem feito isso. Headbanger que nega a influência do punk no metal é muito burro.

RUÍDOZZ: Finalizando, mande um recado aos fãs e leitores.

CAIO ROHR: Primeiro agradecer a você pela oportunidade, segundo convidar a galera para sacar nosso som. Estamos aí na peleja e quem quiser trocar uma ideia é só chamar!